
One Piece é uma série de mangás gigantesca a qual decidi dar uma chance lá em meados de 2015, já tendo acompanhado centenas de episódios da adaptação em anime desde 2010. Assim que comecei a ler o mangá, decidi que não acompanharia mais o anime, que, embora não sofra do mal dos fillers, típico de animes shonens semanais dos anos 2000, possui um ritmo bastante cadenciado após determinada saga da história. Essa cadência não torna a experiência com o anime ruim, mas diminui um pouco a sua qualidade, que às vezes também oscila em termos técnicos de animação. Já o mangá de One Piece possui um ritmo mais dinâmico, a depender da velocidade de leitura, e o mangaká Eiichiro Oda sabe bem como ilustrar e escrever a história que quer contar. Por essa razão, limitei a minha experiência com essa série à obra original, mas irei conferir o restante do anime no futuro, quando eu quiser revisitar a história.
Retomando o tom aventuresco
Após alguns arcos mais tensos focados no Luffy e em sua jornada para resgatar o irmão na guerra de Marineford, One Piece retoma o sentimento de aventura ao reunir todos os integrantes do Bando do Chapéu de Palha para uma imersão submarina rumo à ilha dos homens-peixe. Como é frequente nos arcos da série, há todo um clima de mistério e descoberta ao explorar lugares desconhecidos, mas sem abrir mão do bom humor, que é marca registrada dos personagens e da interação entre eles.
No breve arco anterior a este, em Sabaody, que serviu de introdução para apresentar os personagens após o time-skip, já tivemos uma pincelada das mudanças no grupo principal, e mesmo com o visual diferente e (desnecessariamente) mais carregado de alguns integrantes, eles ainda são aqueles mesmos personagens que o leitor se apegou ao longo da jornada. One Piece realmente estava precisando desse respiro cômico após momentos mais dramáticos, como uma piada de hemorragia nasal do Sanji ao ver mulheres, o que foi curiosamente levado a sério pela trama.
Oda continua com a imaginação afiada ao apresentar os aspectos sociais, culturais e históricos da ilha dos homens-peixe. Para o bem ou para o mal, ele não dosa a mão na hora de ilustrar e escrever todo o lore daquele lugar, o que acaba gerando quadros carregados de informação que vez ou outra comprometem o fluxo de leitura. Na verdade, o texto inchado já se tornou uma das características dos capítulos desde os arcos pós-Skypea, amenizando apenas nos momentos de ação.
E sobre a parte da ação, as lutas nesse arco são menos desafiantes que a dos anteriores, servindo mais para demonstrar o aumento do nível de habilidade dos integrantes do Chapéu de Palha. Em nenhum momento dos embates um a um, o leitor sente uma sensação de perigo por parte de algum personagem. Quase tudo acaba se resumindo a um show off.
Um arco sobre preconceito racial
Mesmo essencialmente se tratando de uma história de aventura, One Piece possui suas abordagens políticas (e, infelizmente, sinto que uma galera aí não aprende nada com isso). Aqui o tema da vez é racismo. Os homens-peixe já haviam sido apresentados no arco de Sabaody, antes do time-skip, como seres inferiores aos humanos, de acordo com o consciente coletivo destes últimos. Luffy e o seu bando chegaram até mesmo a ir a um leilão de escravos salvar uma amiga sereia que estava sendo vendida para um aristocrata que possui todos os privilégios possíveis que você possa imaginar. Nesse arco, Oda põe o dedo da ferida e trabalha o ciclo de ódio e preconceito entre humanos e homens-peixe. Há flashbacks contando o processo histórico de relação entre ambas as raças, que culmina em um arco que é todo voltado para o enfrentamento desse ódio dos homens-peixe para com os humanos e na tentativa de reconciliação e igualdade entre eles. Assim como em Naruto, a quebra de um ciclo de ódio também depende de como você educa a próxima geração a encarar esse problema histórico.
Considero este um dos momentos mais profundamente políticos da série até então. Para mais detalhes e discussões sobre esse tema, recomendo o vídeo “Racismo em One Piece”, do canal Cronosfera.
Plantando sementes
Estruturalmente, One Piece consegue ser genial em manter a sua consistência ao longo de tantos volumes. Quem nunca o leu se pergunta como uma história pode manter-se interessante por tanto tempo, e a resposta resume-se a um detalhado planejamento de ações e consequências. No final desse arco, Oda planta novas sementes para germinar em arcos futuros (já publicados aqui no Brasil) e amplia lentamente os mistérios envolvendo o lore do mundo de One Piece, gerando expectativa para o que virá daqui pra frente.

Volumes lidos para esta resenha:
Com sinceridade. Esse arco me deçepicionou. Os viloes sao sem fraça,e eu odiei a conclua com a otahine. Os problemas de one piece sempre se resolveram no pau, tiger lutava pelos seus companheiros. Nao exostia nada de errado em sua praxi,mas,mesmo assim, ao gim de sua via e tratado como um odioso…. e otahine, e tratada como santa. Ppr ter defendido o teryunbito,mas,essa nunca foi a partica de one puece. Sempre sa valoriaou a açao, luffy sempre lutou pelos seu camaradas. Por que tai nao pode o mesmo?
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Creio que a busca pela resolução a partir do diálogo tenha sido essencial em uma trama envolvendo racismo; do contrário, eles perpetuariam o ciclo de ódio entre os humanos e os homens-peixes. Os capangas do vilão realmente não possuem muita identidade (como um CP-9 teria, por exemplo); o roteiro usa eles mais para mostrar como o bando do chapéu de palha está mais forte depois do treinamento.
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A construção desse arco é maravilhoso, o Oda desenvolve isso a partir do arco do Arlong lá no East Blue.
Pensando em battle shonen esse arco da ilha dos homens-peixes não é um dos melhores, porém como a narrativa te toca abordando esse tema delicado é espetacular! A história do Tiger e o paralelo com a Otohime é muito boa! Me tocou demais. Na parte que o Jinbe doa sangue para o Luffy eu me emociono toda vez que eu vejo. One Piece é muitoooo bom! Que obra!
Gostei demais da resenha. Tem de outros arcos a partir desse?
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Oi, Vitinho. Pode crê, cara. O Oda começou a segunda fase de One Piece com o pé direito e mostrou, mais uma vez, que
ele está narrando uma história que vai muito além do shonen convencional. Eu acho muito interessante como One Piece começou com uma aventura despretensiosa e se transformou nesse caldeirão de conflitos políticos em um mundo que, por enquanto, vem sendo construído com maestria.
Eu fiz uma resenha de Punk Hazard também.
https://literaponto.wordpress.com/2020/06/03/resenha-one-piece-arco-de-punk-hazard/
Atualmente, estou lendo Dressrosa, em um ritmo meio lento, mas acho que mês que vem eu consigo terminar e postar a resenha dele aqui.
Obrigado pelo comentário!
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